Feijão de Toddy e as coincidências da vida

   Eu tenho a natureza introvertida e uma mente sonhadora. Se tem algo que alimentou bastante esse instinto onírico foram as informações, através de reportagens, sobre agricultura alternativa, além da minha leve inclinação para a vida eremítica. Me abastecer de recursos autóctones e aparentemente desprezíveis parecia ser uma solução bem viável para minha almejada vida monástica de missionário. Porém, entre as dúvidas sobre ser um homem da selva, por ter apenas "uma leve inclinação " e a segurança de uma carreira mais convencional, mas que de certa maneira utilizasse minha criatividade, preferi ceder ao medo da realidade implacável  que o meu sonho poderia se tornar. Resolvi produzir chocolate. Porém não com cacau, mas com castanha do Maranhão, ou munguba. Esse falso cacau é abundante em praças e escolas da minha região e tido comumente como não comestível. Mas o resultado não foi satisfatório, e meu chocolate virou paçoca. Nesse interim adquiri o livro por título "Plantas Alimentícias a Não Convencionais " de Valdely Kinupp. E, como encontrasse muitas plantas familiares catalogadas no livro, resolvi passear pelo mato a fim de reafirmar a presença daquelas e investigar se outras que eu desconhecia pudessem ser vistas por lá. Pelo caminho, despretensiosamente, se mostrou pra mim um pequeno arbusto, que a princípio supus ser um galho de árvore, ressecado e com duas vagens compridas e secas com grandes feijões brancos dentro. Levei as vagens para casa e, consultando o livro, constatei se tratar de feijão de porco. Logo plantei as sementes - não ousei cozinhar nenhum feijão, pois àquele estágio, maduro, apresentava certa toxidade. A germinação das sementes foi muito rápida e absoluta. Após uns três a quatro meses todos os arbustos já possuíam vagens, mas por causa da minha instabilidade emocional, destruí quase toda plantação. Mas Deus, que escreve certo por linhas tortas, sabendo que se houvesse alguma utilidade para o cereal além de uma feijoada, eu poderia me interessar novamente em aproveitá-lo, permitiu que eu mantivesse algumas plantas com frutos preservados. Assim continuei pesquisando a respeito do vegetal, sendo que o valor de mercado e principalmente a excentricidade daquele alimento eram o que mais me cativavam. Descobri que era bastante cultivada na Indonésia e que lá era matéria-prima de chips salgados. Assim, como se todos os caminhos me levassem a um tesouro, ao digitar "feijão de porco Indonésia" na aba de pesquisa do YouTube, encontrei nos vídeos associados os títulos "Planta de Toddy" e "Toddy Blanco o Frijol de Cacao". Os dois tratavam do mesmo assunto: Meu infame feijão era sucedâneo do achocolatado! Dios vos bendiga, hermanos venezuelanos! A partir daí passei a me dedicar ao cultivo desse legume especial, que, se não me enriqueceu, ao menos renovou muitos dos meus sonhos.

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